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Parceria entre JFRS e Federação dos Surdos resulta em oportunidade para deficientes auditivos

05/04/2018 - 17h53
Atualizada em 06/04/2018 - 17h35
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"O principal ponto positivo é que aqui tem intérprete para facilitar a nossa comunicação com os ouvintes". A frase, repetida mais de uma vez na curta conversa com Ivonete da Silva, deixa claro aquela que, se não for uma unanimidade, é a opinião da maioria das funcionárias surdas que recentemente começaram a trabalhar na Justiça Federal do RS (JFRS). A manifestação expressa, ainda, um dos maiores desafios enfrentados pelos surdos em seus cotidianos. Com 47 anos (desde os 19 no mercado de trabalho), Ivonete integra um grupo de oito funcionários terceirizados contratados, há um mês, via Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis), para atuar em funções como copeira e contínuo. Antes disso, ela trabalhou por dois anos e meio como estoquista em uma indústria de suprimentos para empresas, também localizada na capital gaúcha. Apesar do carinho que carrega pelos ex-colegas, ela reconhece que enfrentou algumas dificuldades para se adaptar à rotina na empresa. "No início era difícil entender o trabalho. Eu usava a escrita para me comunicar com o resto da equipe, mas muitos não tinham paciência para dialogar desta forma", confessa. [caption id="attachment_47705" align="alignnone" width="500"]Sentadas atrás de uma mesa, três mulheres jovens manuseiam processos em papel. Convênio traz oportunidade de trabalho aos deficientes auditivos[/caption] Inclusão A surdez é a segunda deficiência com maior nível de empregabilidade no Brasil. Conforme dados divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego no segundo semestre do ano passado, aproximadamente 80 mil surdos estão inseridos no mercado de trabalho formal, atualmente. Este número, no entanto, corresponde a menos de 20% das cerca de 410 mil pessoas com esta deficiência no país. Também prestes a completar um mês de trabalho, a copeira Josiane dos Santos, de 30 anos, garante estar feliz com o novo emprego. O ambiente e o fato de atuar junto com uma colega que sabe se comunicar por meio da Língua Brasileira de Sinais (Libras) têm facilitado a sua adaptação. No entanto, ela admite que, via de regra, a realidade do mercado de trabalho impõe barreiras ao surdo. Embora negue ter sofrido qualquer tipo de discriminação ao longo da carreira por conta de sua deficiência, ela aponta que, na maioria dos lugares onde trabalhou, as pessoas não contribuíram com a sua inclusão. "Em 2015, eu trabalhei em uma rede de fast food. A maior dificuldade era quando tinha que lidar diretamente com o público externo. Os clientes não tinham paciência e os colegas não costumavam ajudar", ressalta. Em relação à curta experiência na JFRS, Ivonete e Josiane são quase uníssonas ao apontarem que a maioria dos colegas as tratam bem, mas têm um pouco de receio em puxar assunto. "Não precisam ter. Se for necessário, a gente até ensina uma ou outra palavra em Libras", comenta Ivonete. Preparação A iniciativa é fruto do projeto estratégico Contratação Inclusiva - Por que não?, iniciado em outubro do ano passado. Ao longo de várias reuniões, a equipe do projeto discutiu alternativas para ampliar a inclusão social por meio de ações institucionais de promoção de cidadania e integração. O trabalho culminou na proposta de contratação de pessoas com deficiência auditiva para a prestação de serviços terceirizados cujos requisitos fossem compatíveis com a deficiência. Todas as tratativas foram realizadas via Feneis Já a preparação dos magistrados, servidores e terceirizados para o contato diário com os novos colegas iniciou em fevereiro, com uma apresentação da proposta por integrantes da equipe do projeto, seguida de um bate-papo no auditório da instituição com representantes da Feneis. Ainda no sentido de sensibilizar o público interno para o respeito à diversidade e a inclusão de pessoas com deficiência, foi desenvolvida uma campanha composta por cartazes e folhetos com dicas. "Nós, ouvintes, precisamos passar por uma espécie de reciclagem, que começa com a abertura das nossas mentes e dos nossos corações para o acolhimento dos nossos colegas", afirmou a diretora do Foro da Seção Judiciária do RS, juíza Federal Daniela Tocchetto Cavalheiro. As entrevistas desta matéria foram realizadas com a ajuda da funcionária Camila Ferrão Neves, que é intérprete de Libras.